segunda-feira, 22 de junho de 2009

VALE A PENA LER DE NOVO

Publicado no jornal eletrônico "Antoninaonline" em 18 de junho de 2002 e no livro "Crônicas da Capela"(2006)

NOSSAS FESTAS...

Um povo se conhece por suas manifestações culturais, elas representam o que se tem de mais importante: a sua identidade. Nossa cidade sempre foi conhecida por suas famosas festas; umas religiosas, outras pagãs, uma ou outra gastronômica e assim por diante. Mas sempre tivemos a marca de sermos os bons de festa. Lembro muito bem - ainda criança - quando chegava 15 de agosto, saía de casa bem cedo (com roupa nova comprada na Loja do Madureira) para esperar o trem que chegava na estação, puxando mais de 20 vagões transportando centenas de romeiros, devotos da padroeira. E também, ficávamos orgulhosos quando contávamos os ônibus estacionados ao longo da Av. Matarazzo. De um em um chegávamos aos 150. “Quando a gente é criança parece que tudo é bem maior, mas os números continuam com os mesmos valores, eles não mudaram”.

Claro, são dados memoráveis das décadas de 60... 70. Centenas de barraquinhas contornavam a nossa bela Praça (a Praça Cel. Macedo era considerada a mais bonita do Paraná, pela exuberância de suas árvores, pela quantidade e diversidade de flores cultivadas: papoulas, bocas-de-leão, rosas, hortênsias...) onde milhares de pessoas descansavam, após terem visitado a nossa igreja matriz. Barcos vinham dos municípios vizinhos e a movimentação do nosso comércio garantia um bom faturamento. Outras festas também atraíam muita gente, como o nosso carnaval, que até metade da década de noventa era considerado o melhor do Estado. Também já tivemos Festa do Siri, Barreado, Caranguejo, Exponina e Festivais de Música e até de Inverno.

NOSSAS COMIDAS...

Um bom pirão de peixe com farinha de mandioca acompanhado de uma banana da terra assada na chapa. Ou um gostoso barreado feito em panela de barro, bem escaldado com arroz, farinha e banana. Um camarão frito ou ensopado e um peixe assado na folha da bananeira.Uma caranguejada com caldo de feijão e salada de cebola. Um bacucu a vinagrete e uma boa porção de ostra na chapa. Uma casquinha de siri, com um bolinho de camarão ou de banana, sem esquecer uma pitada de açúcar e um pouquinho de canela por cima. Não dá pra deixar de experimentar uma boa pinga artesanal, uma compota de goiaba, de mamão ou abóbora. Ah! O doce de banana...Estava me esquecendo. Temos também licores.

Olha só quanta coisa boa que faz parte da nossa história gastronômica. Comidas que durante décadas estão presentes em nossas mesas e enraizadas em nossa cultura. Os frutos do mar por nossa localização e o barreado trazido pelos faisqueiros, tropeiros ou foliões. O importante é que temos uma tradição comportamental alimentar, uma riqueza que nos diferencia das outras comunidades, um Patrimônio Cultural.

NOSSA CULTURA.

Casarios, igrejas, fontes, armazéns, porto, ruas estreitas, uma bela baía emoldurada pelas montanhas da serra do mar. Uma história que começa em meados do século XVIII (1712) com a chegada do Sargento Mor ocupando as sesmarias da Graciosa. Florestas, rios, manguezais e um eco-sistema invejável por qualquer “gringo” visitante. Cheiro de colônia, atmosfera de presépio, gente a espera de um barco e de um olhar de esperança.
A Filarmônica, banda da cidade virou até orquestra e toca todo o último sábado do mês no coreto da praça.

Com este farto coquetel de ingredientes, qualquer estudante de Turismo é capaz de criar um pequeno programa para o desenvolvimento turístico em nossa cidade. A receita não é muito difícil. É preciso repensar as nossas festas e investir na qualidade, aproveitar com inteligência a nossa gastronomia e torná-la atraente e competitiva. Melhorar sensivelmente a prestação de serviços através da realização de cursos e treinamento de mão-de-obra especializada e principalmente restituir visualmente a cidade com a melhoria dos serviços essenciais como iluminação, calçamento, limpeza, coleta do lixo, corte de mato, assistência social, segurança, entre outros. É preciso tornar a nossa cidade agradável inicialmente para nós os moradores, “pois uma cidade só é boa para o turista, quando é boa para o seu cidadão”, esta é uma das regras iniciais para se começar a pensar em um projeto de desenvolvimento do turismo para qualquer localidade. Enquanto isso não acontece ficamos olhando os turistas da nossa vizinhança, que dão uma passadinha por aqui, fazem “xixi” e vão embora. Os nossos restaurantes ficam vazios nos finais de semana e a cidade está com cara de doente, parece que houve um tiroteio e o povo sumiu. (passe pela rua Dr. Carlos Gomes da Costa, às 13 horas de domingo e constate ao VIVO e a CORES o que estou falando).

Nossos empresários sentem-se abandonados e é preciso uma ação conjunta com o poder público para então, traçarem diretrizes mínimas para o desenvolvimento de um programa de turismo. Se a administração pública não tem capacidade para o intento, se faz necessário uma urgente mobilização da comunidade - principalmente dos comerciantes diretamente envolvidos - para a geração de idéias, tomadas de decisões e estratégias que irão proporcionar novas ações voltadas para uma melhor movimentação de riqueza e um fluxo maior de turistas. Mas para isso é preciso deixar as “picuinhas” de lado, respeitar a pluralidade de idéias e resgatar a “auto-estima”, valores essenciais para um diálogo construtivo, em nome da reconstrução da dignidade do nosso cidadão, do comércio e da nossa cidade como um todo.

N.E.do blog: o texto já tem sete anos, pouco mudou neste período. Mas é bom relembrar...para não dizerem que já: "não falei das flores".

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