Estudo projeta crescimento de 175% na movimentação do
terminal até 2030. Mas isso dependerá de mudanças pesadas nos acessos e no
calado do porto
Publicado em 14/10/2012 Gazeta do Povo| Fabiane Ziolla Menezes
O Porto de Antonina tem vocação para ser o polo para as
atividades de apoio à exploração de petróleo e gás em alto-mar (offshore) do
Paraná. Esta é uma das principais indicações do Plano de Desenvolvimento e
Zoneamento do terminal, encomendado pela Appa, a administração dos terminais
paranaenses, ao Laboratório de Transportes e Logística da Universidade Federal
de Santa Catarina (LabTrans/UFSC), e que está à espera da aprovação da
Secretaria dos Portos e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq),
em Brasília. O documento, assim como o plano diretor de uma cidade, serve de
base para orientar investimentos e operações para os próximos anos.
O plano projeta um crescimento de 175% na movimentação de
cargas do porto até 2030, o equivalente a 5,5% ao ano, a partir da tendência da
redução dos embarques de carne congelada, do aumento do recebimento de
fertilizantes e de açúcar ensacado e também da introdução de dois novos tipos
de carga: veículos, em caráter complementar à movimentação de Paranaguá, e
produtos metalúrgicos offshore, considerando a instalação da empresa de
engenharia marítima italiana Techint no terminal e a vinda, a partir dela, de
outros fornecedores e prestadores de serviço do ramo.
Essas projeções representam uma transformação profunda no
terminal, que hoje tem apenas um arrendatário operando, o Terminal Portuário
Ponta do Félix. Do recorde de pouco mais de 1,2 milhão de toneladas
movimentadas no ano passado, o porto poderá chegar a 3,3 milhões em 2030. Mas
isso depende de investimentos na construção de novos acessos e do
aprofundamento do calado (medida correspondente à parte submersa do navio).
“O plano anterior, de 2006, era mais recente que o de
Paranaguá, que também foi atualizado neste ano. Mesmo assim, a discussão do
pré-sal só ganhou força a partir de 2009 aqui no Paraná. Nossa tarefa foi
contemplar esses novos caminhos na atualização do plano, considerando as
restrições geográficas e ambientais de Antonina”, explica o superintendente da
Appa, Luiz Henrique Tessutti Dividino.
A vinda da Techint é o principal fator para o estímulo à
formação de um polo offshore no Porto de Antonina – outras três empresas
paranaenses também devem dar a largada necessária à nova vocação (leia mais na matéria relacionada).
No caso do potencial para o transporte de veículos, ele foi
identificado a partir da própria demanda indicada pela indústria há alguns
anos. Em 2008, antes de o calado do terminal ser reduzido pelo acúmulo de
detritos e a falta de dragagem, algumas montadoras buscaram o terminal e
chegaram a realizar duas operações-piloto.
“Isso é importante porque no transporte dos carros a parte
mais crítica não é o embarque no navio, mas a passagem do caminhão-cegonha pela
cidade e o local de espera do veículo até o embarque”, diz Dividino. Na época,
o Porto de Antonina chegou até a receber a autorização para o embarque de
automóveis, mas o rebaixamento do calado acabou por minar a ideia.
Novas ligações rodoviárias não têm nem projeto
Um dos pontos mais críticos para a retomada das operações do
Porto de Antonina – terminal que nos idos de 1949 chegou a ser o quarto mais
importante do país – é o tráfego pesado de caminhões de carga, que atravessam
as cidades de Morretes e Antonina. Embora existam duas ideias para desviar esse
fluxo do convívio urbano – uma ligação com a BR-277 e outra com a PR-410 –,
nenhuma tem projeto pronto.
Ainda assim, o superintendente da Appa, Luiz Henrique
Tessutti Dividino, acredita que é possível fazer a movimentação crescer: “Nossa
ideia é criar bolsões, locais onde os caminhões possam aguardar, antes da
entrada no perímetro urbano de Morretes e Antonina, até a hora do embarque. É
uma questão de organização, que diminuiria o fluxo dos veículos pesados nas
cidades.”
Para isso, além da criação dos bolsões, seria preciso também
reformar todo o acesso ao Porto de Antonina, das proximidades da entrada da
estrada que vai para Guaraqueçaba até o terminal.
O trecho mais encaminhado nesse sentido é mais próximo ao
porto. Com recursos de uma contrapartida antiga da Transpetro, a prefeitura
está asfaltando a interligação das avenidas Conde Matarazzo e Tiago Peixoto,
que dão acesso ao terminal.
A obra é motivo de disputa entre poder público e privado na
cidade. Um dos herdeiros da família Matarazzo – dona do complexo industrial
centenário que fica ao lado do terminal público de Barão de Teffé e também da
única ferrovia particular do país, paralela à Avenida Matarazzo – entrou com
uma ação contra a prefeitura para que a obra seja embargada.
A estrada de ferro, desativada desde os anos 1970, é a
grande esperança de volta aos negócios da família Matarazzo. A América Latina
Logística (ALL) já teve o aval dos herdeiros para utilizar a concessão
ferroviária, que teria validade até 2017.
Assim como o herdeiro Matarazzo, a ALL protocolou meses
atrás uma ação na Vara Federal de Paranaguá contra a prefeitura pedindo a
interrupção da reforma da Avenida Matarazzo. A empresa quer que o projeto seja
adequado aos planos de reativação da linha.
Pelo projeto atual, uma ciclovia corre ao lado da linha
férrea, algo bastante criticado pela população local, já que duas das
principais escolas do município ficam na via, além de uma unidade da Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
A ALL concluiu no último mês, em um investimento de R$ 127
mil, a recuperação do trecho de 16 quilômetros entre Morretes e Antonina, mas
diz que ainda não há acordos comerciais para a retomada da circulação da linha.
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