terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Dar apelido é esporte em Antonina

Roberto Fernandes é Cara-de-Relógio. 
Por que, ninguém sabe.
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Além dos atrativos naturais, cidade do litoral leva fama pelos codinomes dos moradores, que querem transformar as alcunhas em atração turística05/02/2013, 00:12 GISELE BARÃO, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO

Marquinho Pé-de-Mola, Luiz Pirulito, Pelicano, Cara-de-Relógio, Boca-de-Caçapa, Pé-de-Pano. Em Antonina, no Litoral do Paraná, todo mundo se conhece pelo apelido. O costume é uma das marcas da cidade e não gera intriga para ninguém. A origem pode ser a personalidade, uma característica física chamativa, um sobrenome diferente, uma história de infância ou, simplesmente, uma brincadeira sem explicação. E, se o apelido pegar mesmo, o nome verdadeiro pode virar história. É o que conta João Peixoto. Quem? O João Foró. “Se perguntar por João Peixoto, ninguém sabe quem é”, diz.


Roberto Fernandes, vereador em Antonina, é conhecido como Cara-de-Relógio desde os 19 anos. A origem não tem nenhuma explicação lógica, mas pegou. “Quem me deu esse apelido foi o Pé-de-Pano”, conta. Famílias inteiras também ganham nomes diferentes. Tem os Araponga, os Boca Larga, a família Garça, família Maravilha e os Pinto Loco, conhecidos assim por causa da tradicional participação nas folias de carnaval.

Virou moda
São tantos codinomes que a cidade os assumiu como característica. E há quem se preocupe em registrar a criatividade dos moradores na invenção dos apelidos. O cantor e compositor Rui Graciano, filho da famosa dupla caipira Belarmino e Gabriela, mora em Antonina há cerca de 30 anos e já fez músicas sobre o costume. A “Moda dos Apelidos” foi composta na década de 80. “Depois do sucesso, algumas pessoas vieram me cobrar, porque o apelido delas não estava na letra da música”, conta.
Um dos personagens citados na “Moda dos Apelidos” é o professor aposentado Eduardo Nascimento, o Eduardo Bó. Ele mantém um blog há cerca de dez anos, no qual já contou casos divertidos sobre o tema.
Também há preocupação em transformar os nomes alternativos em uma marca cultural da cidade. Para algumas pessoas, o costume poderia ganhar um espaço de homenagem em Antonina, funcionar até como atrativo turístico. Nascimento conta que, junto com outros colecionadores, já buscou projetos para consolidar a ideia. “A cidade tem essa essência e queríamos transformar em produto cultural”, conta. Mas o município não tem nenhum projeto oficial que garanta ao menos a catalogação.
Rui e a esposa, Soraya Valente, formam uma dupla caipira. Nos shows que fazem pelo país, eles contam histórias dos apelidados de Antonina. Os dois já catalogaram mais de 900 nomes diferentes. A intenção é reunir alguns e publicar em livro. “As pessoas trazem apelidos na nossa casa, ou me encontram na rua e contam uma história”, diz. Curiosamente, eles escaparam: não têm nenhum apelido. Ainda.

Na boca do povo
Conheça mais histórias de personagens de Antonina:
Dalila Bú
Uma senhora chamada Dalila, que perambulava pela cidade até os anos 80, descalça, com roupas velhas e uma cesta de cipó ganhou dos moradores o apelido de Bú. Cada vez que passava e era chamada assim, Dona Dalila Bú praguejava: “Bú é a mãe”, dizia. Mas, no fundo no fundo, Bú gostava do novo nome. Se as pessoas ficavam em silêncio quando ela passava, Bú insistia, até ouvir o chamado. E aí, enérgica, voltada a distribuir xingamentos.
Aposta de curitibano
Um curitibano, certa vez, apostou com amigos que iria até a cidade e conseguiria voltar sem apelido nenhum. Chegando a Antonina, o homem se isolou em um hotel e apenas olhava pela janela de vez em quando. Na hora do retorno, ao sair do estabelecimento, ouviu como despedida dos moradores: “Tchau, Cuco!”.
Eleições
Em eleições municipais, candidatos também apostam em nomes populares para ganhar um voto ou outro. Zé da Verdura, Zé Boiadeiro, Clayton Galo Cego, Jessé Papai Noel, Marquinhos da Quiboa, Mario Malária, Jorge Gato e Vera do Castelinho concorreram ao cargo de vereador nas eleições do ano passado.
Casamento
Uma composição de Rui Graciano conta a história do casal antoniense Pedro e Maria. Segundo ele, o romance deu certo porque os apelidos combinaram: Pedro Perereca e Maria Tararaca.


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