Aposentados graças a deus...(vale a pena ler de novo)
Publicado em 25/10/2009 e no livro "Tenho dito" 2012.
APOSENTADOS
GRAÇAS A DEUS... E AO NOSSO TRABALHO
Esta é uma das frases que muita gente fala e ouve pela cidade. Vivemos
em “uma cidade de aposentados”, tanto no bom como no mau sentido.
O paraíso é o ideal em que muitos aposentados se inspiravam quando
ainda labutavam em seus postos. Mas tem muita gente, principalmente nós
“capelistas”, que continua acreditando que aqui seja a melhor cidade do mundo
para se viver. Mas não é bem assim.
Eu particularmente sempre achei que poderia contribuir – com minha
experiência e natureza – para melhorar a cidade. E sempre tentei de alguma
maneira deixar um pouco das minhas ideias e ações. Em 2005, fui convidado a
fazer parte da nova equipe de governo que tinha um compromisso em mudar os
rumos da cidade. Mudei de ares, topei o desafio e antecipei minha
aposentadoria. Vou confessar que a motivação pela mudança e por ter um espaço
na política me custou a perda de alguns R$, pro resto da minha vida. Mas topei.
Entre poucas virtudes que tenho, uma é que não me arrependo das coisas que
faço, pois sempre levo tudo muito a sério – até demais – nem que na metade do
caminho tropece.
Iguais a mim existem centenas de pessoas que poderiam contribuir muito
com a cidade e que também estão aqui por simples opção de vida, sem nenhuma
preocupação de ordem financeira e com um desejo comum em viver bem e ver seus
filhos e netos com expectativas de crescimento e qualidade de vida.
Mas aí é que mora o problema.
Vivemos em uma cidade que passa por um
longo período de estagnação social e econômica e ainda não achou sua nova
vocação. Nossos mandatários mudam de quatro em quatro anos – alguns conseguem
enganar duas vezes – e não conseguimos juntos dar um novo alento às nossas
angústias do dia a dia. Ainda continuamos “a ver navios”. Com serviços públicos
sem nenhuma responsabilidade e qualidade e governos sem a mínima participação
popular. Claro... O “povo” não reclama, pois entende muito pouco
ou quase nada do universo da política e dos políticos. Quem consegue dar seu
berro solitário quase sempre é alijado do processo: “fala demais”.
Pela pequenez do nosso convívio era realmente para vivermos num
paraíso. Mas é difícil, muito difícil, querer mudar um determinado padrão
cultural enraizado, paternalista e com imensa dependência de submissão
religiosa. As nossas autoridades políticas usam e abusam destes ingredientes e,
sem contestação, vão dando prosseguimento ao estágio de letargia. Sequer
conseguem montar um serviço competente de limpeza da cidade... Imagine pensar
em um projeto de
desenvolvimento sustentável a
curto e médio prazos? Loucura.
Assim, nós “cidadãos aposentados... Graças a deus e ao...”, vamos
lentamente também incorporando o espírito derrotista que paira em todos os
cantos e esquinas do nosso velho rincão guarapirocabano. Mas, eu em particular,
continuo tentando colaborar com a “minha vila” global. No mínimo exijo viver em
um ambiente limpo e arejado. Porque quando começar a me satisfazer com menos
que isso, já chegou a hora de mudar de universo. Aí realmente estarei me
aposentando da vida. Tenho dito.
Kudos, confrade. Sempre digo que, ao contrário do chavão 'cada povo tem o governo que merece', não merecemos nossos governantes.
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