sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ENTREVISTA II*

ENTREVISTA II*
continuação da Entrevista I

Quais os caminhos para desenvolver este potencial?
Primeiro é a vontade política, que passa por algo chamado educação e conscientização do que eu sou e para onde eu vou. Nós não temos conscientização por falta de educação. Então, a educação é elemento fundamental para a formação da personalidade e da consciência. Não adianta apenas vontade política se a população não tem consciência, mas a sociedade consciente obriga a autoridade a fazer, e a sociedade não vai votar em uma autoridade que não esteja envolvida com a sua identidade.  Hoje o grande problema é o conflito de identidades, não há uma conscientização de quem somos, dos valores que temos e sem isso não vamos a lugar algum.

O que os antoninenses podem fazer para construir uma identidade cultural?
Tudo passa pela educação, é um processo a médio e longo prazo. A maior dificuldade para diminuir esse prazo se encontra na própria comunidade, para se criar grupos que possam trabalhar em comum, para que esses valores sejam conversados junto com a comunidade.
O Paraná tem uma diversidade cultural, muitos imigrantes, mas não é o nosso caso aqui, nós somos índios. Quando os portugueses chegaram aqui encontraram os carijós. Hoje, não temos mais os índios nem os portugueses, os japoneses e os alemães que vieram depois foram embora na guerra, ficaram alguns italianos em Morretes. Por exemplo, o caldo cultural de Morretes, cidade vizinha, é totalmente diferenciado de todas as outras cidades, lá se encontra uma certa identidade porque Morretes ainda é considerada uma “colônia italiana”. Em Antonina nós não temos mais isso, perdemos com o tempo, com a decadência econômica essas famílias procuraram outros horizontes. Ficaram aqui pequenos comerciantes, uns comércios de sobrevivência... Farmácia, barbearia, padaria, mas não tem uma atividade econômica que dê sustentabilidade para a própria identidade da cidade.

Hoje, em Antonina, é possível perceber traços dos índios e portugueses?
Acho que temos um pouco dos costumes indígenas na alimentação, na contemplação do mar, dessa paisagem caiçara, que é uma paisagem altamente diferenciada da serra acima. Esse é um dos potenciais que falávamos, e que pode ser transformado em atrativo turístico. Mas temos que ter um cuidado enorme para que o turismo seja sustentável, em que a consciência da cidadania e da natureza seja maior que os interesses do turista. É complicado quando o turista se torna o centro das atenções, ele vem e explora, é o turismo pelo turismo, a troca do capital pelo produto e serviço, isso é horrível. Então temos que ter cuidado ao transformar nosso potencial em produto e serviço.

A festa também pode ser um caminho para atrair turistas?
Acho que é um grande caminho, mas tenho um certo receio com festa porque ela deveria se chamar evento: como a festa vem, ela vai embora. Então, a festa deve ser realmente uma representação da comunidade.

Continua na próxima semana...


*entrevista com Eduardo Nascimento (Bó) concedida a Beatriz Helena Furianetto (doutoranda da UFPR) 18-05-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente com responsabilidade e se identifique.